segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O Terminal

O terminal rodoviário é gigantesco, mas os únicos sons que escuto são o encontro de minhas botas com o solo. Apenas isso, apesar de estar lotado de pessoas indo e vindo. Todos com suas vidas reais, vivendo, sobrevivendo e eu embarcando de volta ao meu mundo real. Plataforma A. Sentei e esperei o embarque. Poltrona 39. Fim. Na cabeça agora o silêncio era quebrado pela musica de Cássia Eller:
“Quem sabe ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola, sozinha, calçada com minhas meias três quartos, rezando baixo pelos cantos, por ser uma menina má”
Era o fim de um conto de fadas, ou um romance de fantasia, mas era o fim. Tentei lembrar-me de como tudo começou, e não foi possível conter o sorriso quando me lembrei do instrumento mágico que me fez adentrar esse mundo fantástico: PC, ou personal computer, ou apenas computador...
Creio que todos sabem o que é esse aparelho mágico, o que me poupa tempo em descrevê-lo. Apenas direi o obvio que ele é capaz de levar a qualquer parte de qualquer mundo que já tenha sido criado, ou até mesmo criar o seu próprio.
Deve ter sido há cerca de três anos... Não lembro exatamente. Mas daí em diante nunca mais fui a mesma.
A mudança foi extremamente rápida, de uma hora para outra estava em contato com todo o globo terrestre, e para entrar em outros mundos foi mais fácil ainda. Adquiri arco e flecha, depois o poder de controlar o fogo. Em pouco tempo consegui habilidade em manejar uma espada. Foi então que construí meu exército, catapultas, destruição... Sangue... E uma coisa que acaba acontecendo quando temos contato com outros seres vivos: sentimento.
A ultima chamada para o embarque faz com que eu volte das minhas lembranças. Não sei realmente se conseguirei sobreviver a essa travessia. Depois de tantas batalhas, paixões, traições... Não sei como me comportar nesse mundo em que não posso voar, muito menos mandar matar quem me aborrece.
Imortalidade... Voltar a conviver com meros mortais... É tão pratico apertar o botão de deletar algo ou alguém de sua vida. Nesse mundo que passei os últimos anos era assim, pessoas transformadas em bits, e automaticamente descartáveis. Não somente ao meu desejo, mas dos outros também, ainda temos meios de descobrir quem apertou essa tecla para nós... Incontáveis foram aqueles que passaram por mim nesse tempo. E me arrependo de não ter usado-a em mais vezes.
Pensei em realmente desaparecer desse mundo, mas os vínculos com eles eram tão fortes que precisava de uma ruptura para sair, não havia um modo de simplesmente deletar a mim mesma.
Estava de fato incomodada. Transitar entre mundos, ter teletransporte, isso é liberdade? “O mundo sem sair de casa” na verdade me tornei prisioneira dentro de minha mesma, amarada a uma tela fria em busca de sentimentos que pudessem me aquecer. Emoções reais num mundo de faz de conta.
Essa foi realmente a parte mais complicada, o sentir, o viver, quando os dois mundos se misturaram e me vi no mundo cheio de glamour no qual nunca me imaginei pisando.
Coisas que ficaram tatuadas em minha alma, irreversível, irremediável, coisa que nem o tempo será capaz de apagar.
A viagem chega ao fim e estou de volta ao mundo real. Percebo que cada coisa possui um novo sabor. Que receber um tapa dói... Nesse mundo as pessoas acordam com mau hálito e nem sempre o beijo é bom.

6 comentários:

Tyr Quentalë disse...

O mundo ao alcance de seus dedos, é o que eles prometeram, mas em troca disso, damos a eles a vontade de viver liberto e de conhecer o mundo como ele realmente deve ser conhecido...
Não torne a caixa mágica a sua subsistência de vida, pois tal vida é apenas uma ilusão.
Beijos

Bat-Cristina disse...

Esse texto tá cheio de nerdices.
=P

Monica Sicuro disse...

É vida de nerd não é fácil mesmo!!

Félix Maranganha disse...

A liberdade que nos aprisiona, muito bom, fantástico. Vou divulgar para meus amigos lerem.

Anônimo disse...

Coisas simples que nos fazem tão presos a surrealidades dentro de uma caixa colorida.
Impressionante e viciante. Adorei.

Se quiser visitar minhas páginas:
www.muquifodeletras.blogspot.com
www.lisastercoy.com

Bjs! ;)

Monica Sicuro disse...

Lisa, realmente viciante... Acho que é por isso que é tão dificil de sair de lá.

E vou te fazer uma visita sim ^^

Bjs