sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Mulher... Mãe


Beta HCG positivo.

Um misto de medo e alegria, algo que só o fato de ser mãe pode proporcionar: uma vida. Pequena, desprotegida, dentro de seu corpo. Um ser que depende única e exclusivamente de você.

Com o passar das semanas este pequeno ser desenvolve, e seu corpo começa a acomodação e prover alimentos suficientes para sobrevivência dele.

Uma mexida faz tudo ser real, o que até agora só era provado pela barriga crescendo, se mexe dentro de ti, ele está vivo! Suas mãos não saem do abdome, querem tocar aquela criança que ali habita, numa expectativa gigantesca para um novo movimento.

Entre vômitos e enjôos, o tempo passa. Exames para constatar a perfeição do ser, aliviada com isso, o que mais quer saber é se é um menino ou uma menina, mas não quer se mostrar.

Longos papos, que para os descrentes parecem monólogos, e que só você e ele entendem. Uma ligação que vai além do cordão umbilical.

É chegada a hora, a primeira dor anuncia. Contrações. Medo. Dor. Emoção. Alivio. Silêncio. Segundos parecem horas. Um choro agudo ecoa na sala de parto. Levam seu tesouro para longe de seus olhos. Aflição. Desespero. Novamente o choro que vem de longe. Impotência. Não podes fazer nada, ele não está mais dentro de você.

Finalmente to trazem. Aquele pequeno menino, numa manta verde, todo embrulhado. Apenas o rostinho de fora. Olhos fechados, sério. A longa espera tinha acabado, ali estava a face daquele que habitou seu corpo por nove meses. Uma lagrima seguida de outras. É impossível controlar.

A médica pede para que fale algo a ele, sem saber o que dizer você fala apenas “oi”. Com o som de sua voz ele abre os olhos reconheceu sua genitora, o som que ele ouvia todos os dias nesse longo processo.

Em casa uma outra ligação é estabelecida, de seu seio sai o único alimento essencial para seu crescimento.

Meses passam, anos passam e não há nada que quebre a ligação entre mãe e filho. Não há nada que substitua a magnitude de ser mãe.

Ser mulher é ter a capacidade de ser mãe. Ser mãe é partilhar da presença de Deus.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Luta

Com armas em punho vou à luta, não ligo para quem ficar em meu caminho, quero mais é vencer!

Com as armas vou à luta, sou forte, sou guerreira e não vou temer.

Com uma espada em punho vou cortando dificuldades, mutilando imprevistos, matando adversidades e furando o destino.

Fecho os olhos e retalho tudo que está em minha frente, seja bom ou ruim, só quero sair, quero viver, quero lutar, e mostrar ao mundo do que sou capaz.

Meu vestido longo e preto dança conforme a espada, num balé sincronizado, o reflexo de minha espada se espalha pelo local, iluminando as trevas e me iluminando.

Corto a escuridão trazendo a luz, pouca para tudo que é necessário, mas fundamental para esta luta.

Luta pessoal, que ninguém pode interferir. Não aceito ajuda de ninguém, o inimigo é meu eu tenho que derrota-lo, seja onde for, seja como for, eu vou, eu sou capaz, só assim encontrarei a paz.

Meu novo ato, minha nova vida, minha, só minha e de mais ninguém...

A cada passo, a cada barreira derrubada minha força só aumenta, cada barreira derrubada torço para que venha outra.

O sabor da vitória, esse é o melhor de todos. Melhor sabor que já provei.

Chego ao fim do túnel, está semi-iluminado com a luz de minha espada. Nesse momento me deparo com meu real inimigo, ainda não posso ver seu rosto, pois está vestido com uma capa que cobre o corpo todo e no capuz apenas um buraco, como um corpo sem rosto.

Vou com toda vontade, quero atacar e acabar logo com isso!

Mas meus golpes são facilmente previsto, ele possui os mesmo movimentos que eu, sabe tudo que eu vou fazer e está a um passo a minha frente, parece ler meus pensamentos.

Não vou parar, não agora, não na reta final de minha luta!

Com a espada em punho giro para a esquerda, isso surpreende meu inimigo mais ele desvia, o maximo que consigo é pegar no seu capuz e finalmente ver o seu rosto.

A espada cai no chão com o susto do que vislumbro em minha frente, era como olhar em um espelho.

Meu pior inimigo sou eu mesma!

- Nossa batalha não acaba hoje minha cara, não se iluda. Não vou te derrotar aqui porque eu não quero, mas vamos lutar por toda vida, uma contra a outra... Até que a morte nos separe!- Assim minha inimiga sai vestindo seu capuz negro e me deixando novamente na escuridão...


Com minha arma fico parada, sei que o pior está por vir... Novas lutas... Novas derrotas e novas vitórias.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

31 de Janeiro

Rua São Pedro, nº 168, 3º andar, banheiro feminino...

Um olhar no espelho, uma duvida nasce, seguida de outra e outra e mais outra...

Quem será essa que estou olhando agora?

Há muito tempo atrás descobri que tenho mil faces, mil maneiras de ser, tantas que me perdi entre elas. Hoje nesse momento, de frente a esse espelho não sei quem sou, não reconheço esse olhar, nem esse sorriso forçado...

Para qual das faces de mim mesma estou olhando?

Já identifiquei quatro, que agiam em separado, em momentos oportunos, cada uma em sua área, que era perfeito. Mas agora, elas se misturam e se contradizem, aparecem quando não são chamadas, se confundem, me confundem.

Quem é essa que estou olhando agora?

Isso me faz lembrar um trecho de Clarisse Lispector : "Não é que vivo em eterna mutação, com novas adaptações a meu renovado viver e nunca chego ao fim de cada um dos modos de existir. Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus."

Será que cada uma das que sou são esboços inacabados de mim mesma?

E a musica de Ana Carolina tocando ao fundo: “... de tantas mil maneiras que eu posso ser, estou certa que uma delas vai te agradar...”

Sou uma para cada pessoa, Monica mãe, Monica profissional, Monica aluna, Monica mulher. Monica pode tanto significar mulher sozinha como mulher única...

Eis minha duvida, como no meio de tanta gente como ainda consigo me senti só?

Será que estou perdida dentro de mim mesma, será que um dia vou me encontrar?

As perguntas chegam ao fim quando a Monica profissional é chamada para monitorar ligações.