terça-feira, 5 de outubro de 2010

600 outdoors de puro preconceito


Essa madrugada quando vinha para casa depois de um dia bem cheio, acho que era por volta de 2 horas da manhã, algo me tirou o sono. Não foi um acidente, mas um outdoor! Estava naquele estado de quase dormindo quando me deparei com tal frase: “Em favor da família e preservação da espécie humana. Deus fez macho e fêmea” (!!). A primeira pergunta que meu cérebro sonolento fez foi: mas os seres humanos estão em extinção? Esfreguei os olhos e tentei raciocinar em cima do que ficou martelando em minha cabeça “preservação da espécie humana”, creio que era a única que eu lembrava. Será que o autor estava se referindo à monstruosidade que assola a sociedade? Será que ele queria dizer que estamos perdendo a humanidade? Não demorou muito para que parasse de filosofar, lá estava outro do mesmo. Estampando uma imagem sorrindo do pastor que provavelmente é o criador de tal frase e meu cérebro finalmente registrou-a por completo. Depois de discutir com meu marido a cerca do tamanho do preconceito embutido nesses outdoors e cada um de nós chegarmos a uma conclusão diferente. Estou eu aqui sem conseguir dormir por causa de uma frase! Nossa estou indignada com isso! Já que não consigo dormir vou analisar cada período da já citada frase.

“Em favor da família”

Historicamente a família é composta por pai, mãe e filhos, esse é o regime patriarcal. Ainda temos algumas culturas onde a mulher criava seus filhos sozinha, sem auxilio masculino. Ou em algumas tribos africanas ou aborígenes, aquelas onde a mulher é a chefe da família. A sociedade ocidental é moldada em bases machistas que vigoram desde a Grécia antiga. Hoje temos famílias formadas por uma única mãe, que cuida de filhos de vários pais, temos o homem que cuida do filho sozinho. Então qual o conceito de uma família hoje, em pleno século XXI? Acho que um lar onde tenha harmonia e respeito pode, e deve ser considerado um lar familiar. Que adianta um homem e uma mulher viverem juntos se engalfinhando e transformando os filhos em delinqüentes?

“e preservação da espécie humana”

Essa foi realmente a parte que mais me intrigou... Ao ler toda a mensagem do outdoor percebi que era de cunho homo fóbico, mas tá... Ok.... Daí ele alegar que relações homossexuais podem colocar em risco a espécie humana? Será que esses religiosos acham que quando liberarem o casamento gay vai todo mundo ficar com alguém do mesmo sexo? Quem quer fazer faz, não precisa de casamento para isso não. E outra, Tem muita gente por ai que ainda gosta do sexo oposto. As pessoas possuem direito de escolha, principalmente se querem viver com um homem ou uma mulher. Isso não vai impedir pessoas irresponsáveis de colocar filho no mundo e largar ao “Deus dará” que soa realmente irônico dentro do contexto.

”Deus fez macho e fêmea”

Acho que esse é o período mais ridículo da frase. Certo, Deus nos criou, mas também deu livre arbítrio para escolhermos o caminho que quisermos, e não vai ser uma frase polêmica que vai mudar a escolha de qualquer pessoa. Essa ação só está incitando o preconceito contra aqueles que são diferentes.
Quando busquei no Google a imagem referida para colocar aqui no post, encontrei um site gospel apoiando a iniciativa do pastor Silas Malafaia “Existem movimentos na sociedade e leis perigosíssimas tramitando no Congresso Nacional e nas Assembléias Legislativas com o intuito de violentar os princípios cristãos”. Leis perigosíssimas?!? Esse pequeno trecho me fez ficar ainda mais assustada. O Brasil é um país cristão, isso todos sabemos, mas existe uma gama de religiões: afro-brasileiras (que são muito respeitadas lá fora), asiáticas, isso sem falar nas tradicionais judaica e mulçumana. Sou cristã, sou católica. E pelo que sei cristo veio ao mundo para salvar aqueles que o aceitavam de livre e espontânea vontade. No entanto todos sabem que já tivemos eventos vergonhosos na história da religião. Primeiro os cristãos eram os caçados, depois os cristãos começaram a caçar... Primeiro judeus, depois mulçumanos e finalmente a parte mais marcante: a inquisição, a busca pelos hereges!
É isso que estou vendo se repetindo, um fanatismo religioso perigoso e não as leis que tramitam no congresso. As massas são guiadas pelos padres, pastores, bispos, seja lá o que for. E se estes pregarem o ódio em vez do amor, o preconceito em vez da compreensão, vamos acabar com novas fogueiras em praça púbica.
Já que o tema é constituição de família, liberem logo o casamento gay e permitam que esses casais adorem uma das muitas crianças que estão por ai, nas ruas ou em orfanatos, passando fome, maus tratos e toda sorte de violência moral e física. Ao permitir que uma criança cresça nesses ambientes talvez sim seja um risco a preservação da espécie. Seria bom se colocasse no lugar dessas frases do outdoor a seguinte: “Em favor da família e da preservação da dignidade. Adote uma criança. Deus verá seu ato de bondade”

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Por detrás dos Bastidores



Quando lançamos o Fiat Voluntas Tua II, muitos leitores vieram perguntar se era uma continuação do primeiro, e se faria falta não ter lido o Primeiro volume.
Desde que a Rubia e eu começamos a elaborar a proposta desse livro sempre tivemos em mente fazer um volume dedicado aos anjos e outro aos demônios.
Mas não passamos essa intenção para os autores, os textos apenas foram chegando e, parecendo uma conexão em grupo, todos os contos do Fiat I estavam voltados para os anjos.
No segundo, sem que mostrássemos qualquer intento a respeito os contos vieram com maior tendência de mostrar o lado dos caídos.
Então acabamos por fazer dois livros com o mesmo tema, mas com enfoques totalmente distintos.
Isso está claro nas capas. Onde mostramos sensualidade e devoção.
Creio que quando vários autores juntam-se em torno de um projeto existe algo que os une. Um elo invisível que faz com que cada conto tenha uma deixa para o outro.

Mas ambos os volumes são distintos, um não depende do outro. Se acaso o autor não leu o primeiro, não terá problemas em entender o segundo. E o mesmo vale para o primeiro volume.

Ainda temos aqueles que, depois de ler o segundo Fiat, sentiram vontade de ler o primeiro. Basta entrar em contato conosco e solicitar um exemplar.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Fiat Voluntas Tua II


Em seu segundo volume “Fiat Voluntas tua”, do latim: seja feita vossa vontade, versa sobre anjos e demônios, mas não espere encontrar nessas linhas somente guerras entre seres alados que estão de lados opostos do mesmo tabuleiro.
Estes contos buscam as respostas escondidas nos mais escuros cantos do céu e nas profundas entranhas do inferno. Onde, por muitas vezes, encontram mais e mais perguntas.
- Será que somos apenas capricho do nosso criador?
Mergulhe nessas páginas e ache por si mesmo a resposta, ou não...




Contos ilustrados pelo desenhista Zambi, que possui um talento gigantesco.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Novidades 2010

Não é novidade que sou organizadora de antologias, a novidade é que agora sou editora do selo Spectrum, da editora Multifoco.

O Spectrum é o selo responsável por todas as publicações de terror da editora (minha cara, né? =P)

Pois bem, vamos ao que interessa:
Se você tem qualquer tipo de livro, de terror ou não, que queria publicar é só enviar um email para monicahsicuro@gmail.com que vou analisar e darei uma resposta o mais rápido possível.

Outra novidade de 2010 é que estou organizando 5 coletâneas!

Aqui darei um breve resumo sobre cada uma delas.


Femina – Olhar feminino
Com Adriana Pueblo.
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=95680903

Um livro escrito (editado, ilustrado e produzido) apenas por mulheres, onde mostramos que a nossa forma de ver o mundo é diferente, poética.
Serão selecionados apenas contos que versem sobre essa temática e que tenha uma mulher como protagonista, podendo estes ser de fantasia, terror ou apenas ficção.

Pacto de monstros 2 – onde os mitos são mais que meros contos
Com Rubia Cunha

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=82682585

Aqui buscamos uma releitura de vários mitos, lendas urbanas ou seres extraterrestres. Nesse livro o monstro é o protagonista. Como sempre ilustrado pelo nosso talentosíssimo Zambi!

Caldeirão da Bruxa
Com Georgette Silen
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=98308110

Esse caldeirão (que não é do Huck) contará com textos sobre bruxaria (minha especialidade), feitiçaria, sortilégios. Sejam eles antigos ou atuais.

Cruzada – Contos medievais
Com Georgette Silen
http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=98308155

Contos medievais, de fantasia ou não, que o pano de fundo seja na idade média. Podendo ser na ocidental, ou até mesmo oriental.

Fiat Voluntas Tua III

http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=77649281

O tema desse volume será fantasia história, na verdade estou desafiando os autores a escolherem um evento histórico e colocaram um anjo ou demônio como agente do fato/desgraça/revolução.


Espero vocês em uma delas

PS: os links para as comunidades do orkut onde temos informações, novidades e o regulamento da Multifoco.
PS²: A listagem acima estão por ordem de publicação.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Gerra e Arte


Analise do Filme "Bastartos Inglórios" de Tarantino


Ao pesquisar a cerca das criticas do filme após assisti-lo, percebi que muitos autores se preocuparam em falar a respeito do sangue, enfatizando a cena em que um soldado nazista tem seu crânio destruído por um taco de basebol. Ao abordar a temática de uma guerra, creio ser impossível o não uso de violência, seja ela física ou psicológica. Em “A lista de Shindler (The Schindler's List, 1993 – Steven Spielberg)” a cena mais chocante fica por conta da seqüência da menina de vestido vermelho, primeiro passeando pelas ruas, depois na pilha de cadáveres. Já em “A vida é bela (La Vita È Bella, 1997 – Roberto Benine)” a violência fica a cargo do filme inteiro. E para não deixar de citar uma cena brasileira e forte, uso “Olga (2004 – Jayme Monjardim)” quando a filha dela é retirada da protagonista na prisão. O sangue em si, já se tornou marca registrada no cinema, principalmente o europeu, que possui uma abertura maior e alguns temas mais “cult”. O que mais choca é a desumanidade explicita, a crueldade e a violência psicológica.

Retomando a cena tão criticada de Bastardos inglórios lembro-me automaticamente de “Irreversível (Irréversible, 2002 – Gaspar Noe)” onde a primeira cena foi um crânio sendo devidamente esfacelado por um extintor de incêndio. Sem contexto e sem explicação, que só virão ao longo do filme. Tarantino usou o recurso com maestria fazendo assim uma obra de arte. Outro ponto que pode ser observado foi o uso da câmera giratória, com fez pela primeira vez Gaspar Noe em “Irreversível” para dar a sensação ao expectador de total confusão e desconforto.

Outro ponto que é necessário ser abordado são as falas iniciais, onde o caçador de judeus explica para o fazendeiro que a repulsa por judeus pode ser comparada a repulsa humana por ratos, mas não por esquilos, mesmo ambos sendo roedores da mesma espécie. Apesar de longo, o dialogo resume de forma clara toda a ideologia nazista.

A relevância de um filme sobre a segunda guerra em pleno 2009 é quase que obvia. A indústria cinematográfica norte-americana é formada por muitos membros de origem judaica e histórias como estas sempre seduziram Hollywood e, consequentemente, o grupo que entrega o Oscar. Podemos comprovar com a premiação do filme “Os falsários (The Counterfeiters, Áustria, 2007)” como melhor filme estrangeiro. Dentro deste contexto, fazer uma vingança judia, especulando sobre o “SE” usado de forma espetacular na fala de Aldo Raine (Brad Pitt) dirigindo-se ao caçador de judeus – “SE eles ficarem, SE eles estiverem vivos, Se... Se... São muitos SE’s para uma frase, não acha?”. E é exatamente isso que Bastados Inglórios é: um grande SE. O roteiro é divido em duas partes: na vingança pessoal de Shoshanna (Melanie Laurent) e a missão dos bastardos, que inverteu os papeis tornando os judeus caçadores de nazistas.

Na historiografia recente já possuem relatos de movimentos de resistência judia. Isso quer dizer que essa imagem montada pelo cinema de que eles deixaram o genocídio acontecer livremente está sendo aos poucos desconstruída. Em reportagem da Revista Aventuras da história, set/09, fala sobre Mordechai Anielwicz, importante líder da resistência judaica e sobre o levante do gueto de Varsóvia, onde judeus resistiram por mais de um mês a ofensiva alemã. Contavam com até 500 militantes e foram esmagados pelo general da SS Jürgen Stroop.

O que temos ao fim do filme é a sensação de alivio, pois o “louco” ditador Hitler foi metralhado incansavelmente pelo soldado norte americano... Não foi assim que aconteceu, mas se o SE do filme realmente fosse um fato, o EUA salvariam o dia...
Mesmo com essa distopia, o ingresso vale a pena.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Retirando a poeira

Estive um bom tempo sem postar nada aqui, mais de 6 meses para ser mais exata!
Então resolvi postar um texto que escrevi dia 28/08/09, espero que gostem.


Depois postarei o video de divulgação do novo livro Pacto de monstros.

O Terminal

O terminal rodoviário é gigantesco, mas os únicos sons que escuto são o encontro de minhas botas com o solo. Apenas isso, apesar de estar lotado de pessoas indo e vindo. Todos com suas vidas reais, vivendo, sobrevivendo e eu embarcando de volta ao meu mundo real. Plataforma A. Sentei e esperei o embarque. Poltrona 39. Fim. Na cabeça agora o silêncio era quebrado pela musica de Cássia Eller:
“Quem sabe ainda sou uma garotinha, esperando o ônibus da escola, sozinha, calçada com minhas meias três quartos, rezando baixo pelos cantos, por ser uma menina má”
Era o fim de um conto de fadas, ou um romance de fantasia, mas era o fim. Tentei lembrar-me de como tudo começou, e não foi possível conter o sorriso quando me lembrei do instrumento mágico que me fez adentrar esse mundo fantástico: PC, ou personal computer, ou apenas computador...
Creio que todos sabem o que é esse aparelho mágico, o que me poupa tempo em descrevê-lo. Apenas direi o obvio que ele é capaz de levar a qualquer parte de qualquer mundo que já tenha sido criado, ou até mesmo criar o seu próprio.
Deve ter sido há cerca de três anos... Não lembro exatamente. Mas daí em diante nunca mais fui a mesma.
A mudança foi extremamente rápida, de uma hora para outra estava em contato com todo o globo terrestre, e para entrar em outros mundos foi mais fácil ainda. Adquiri arco e flecha, depois o poder de controlar o fogo. Em pouco tempo consegui habilidade em manejar uma espada. Foi então que construí meu exército, catapultas, destruição... Sangue... E uma coisa que acaba acontecendo quando temos contato com outros seres vivos: sentimento.
A ultima chamada para o embarque faz com que eu volte das minhas lembranças. Não sei realmente se conseguirei sobreviver a essa travessia. Depois de tantas batalhas, paixões, traições... Não sei como me comportar nesse mundo em que não posso voar, muito menos mandar matar quem me aborrece.
Imortalidade... Voltar a conviver com meros mortais... É tão pratico apertar o botão de deletar algo ou alguém de sua vida. Nesse mundo que passei os últimos anos era assim, pessoas transformadas em bits, e automaticamente descartáveis. Não somente ao meu desejo, mas dos outros também, ainda temos meios de descobrir quem apertou essa tecla para nós... Incontáveis foram aqueles que passaram por mim nesse tempo. E me arrependo de não ter usado-a em mais vezes.
Pensei em realmente desaparecer desse mundo, mas os vínculos com eles eram tão fortes que precisava de uma ruptura para sair, não havia um modo de simplesmente deletar a mim mesma.
Estava de fato incomodada. Transitar entre mundos, ter teletransporte, isso é liberdade? “O mundo sem sair de casa” na verdade me tornei prisioneira dentro de minha mesma, amarada a uma tela fria em busca de sentimentos que pudessem me aquecer. Emoções reais num mundo de faz de conta.
Essa foi realmente a parte mais complicada, o sentir, o viver, quando os dois mundos se misturaram e me vi no mundo cheio de glamour no qual nunca me imaginei pisando.
Coisas que ficaram tatuadas em minha alma, irreversível, irremediável, coisa que nem o tempo será capaz de apagar.
A viagem chega ao fim e estou de volta ao mundo real. Percebo que cada coisa possui um novo sabor. Que receber um tapa dói... Nesse mundo as pessoas acordam com mau hálito e nem sempre o beijo é bom.