segunda-feira, 15 de junho de 2009

Fiat Voluntas Tua

Nesse Sábado dia 06/06/09 foi lançado no Espaço Multifoco o Livro Fiat Voluntas Tua - Por anjos e demônios, organizado por mim e pela escritora Rúbia Cunha.

Abaixo um clipe que eu produzi as presas na noite anterior ao lançamento.

http://www.youtube.com/watch?v=I6F3g4viOXs

quarta-feira, 25 de março de 2009

Concreto e Abstrato

Curiosa, a camponesa olhava o brilho que emanava de uma árvore, aproximou-se vagarosamente e viu que a luz dançava no troco oco. Quando seus olhos se acostumaram com o que via, percebeu que se tratava de um pequeno ser completamente envolto por teias de aranha.
A jovem retirou o pequeno ser o mais rápido possível, pois uma gigantesca aranha já estava de volta em busca de seu jantar.
Tamanha foi a surpresa da jovem ao perceber que aquele ser era uma espécie de miniatura humana, que a jogou no chão.
- Obrigada – falou a pequena criatura abrindo suas brilhantes e pequeninas asas.
- Você fala? – indagou a jovem assustada.
- Sim, sou uma fada. Fui pega desprevenida e não via mais solução, até que você chegou e me salvou... E como recompensa... Darei a ti direito a um desejo.
- Nossa! – Os olhos da camponesa brilharam. E sem pensar duas vezes ela pediu: – Quero ser feliz!
- Não é assim que se faz pedido – a fada deu um pequeno risinho. – ser feliz é abstrato.
- O que é abstrato?
- É aquilo que não podemos tocar, você tem que pedir coisas concretas, coisas que te façam feliz. Entendeu?
- Claro! Eu quero me casar com o príncipe que faça todas as minhas vontades, ter um filho saudável, criadas, comida na mesa, roupas novas!
A fada sorriu, naquele ano de 653, era claro que uma camponesa prediria o que ela via como uma vida perfeita. Então todos os pedidos da jovem foram realizados, e a fada prometeu que voltaria em 15 anos para verificar como estaria a sua salvadora.

Casou-se com o mais belo dos príncipes da região, e logo no primeiro ano teve um filho, bonito, forte e saudável. Roupas, criadas. Aprendeu a ler e teve contato com as letras clássicas, no qual mergulhou no passar dos anos em que percebeu que seu príncipe não era encantado. Aquele homem com o qual casou, fazia sim todas as suas vontades, mas tratava as pessoas com a mesma origem que ela como o resto do jantar. Que seus luxos eram pagos por pesados impostos. Que ele forçava a se deitar com ele, e quando ela não o fazia ele ia se servir das servas. Percebeu que quase não pôde participar da criação do filho, pois ele estava sendo preparado para ser o novo rei. Nem em seu peito ele pode ser alimentado, tinha ama de leite para isso.
Com tamanha tristeza e os seios repletos de leite ela pediu um novo aposento, seria no alto da torre. E como todas as suas vontades eram feitas, em pouco tempo já estava pronto.
E a cada ano que se passava um novo andar era adicionado a torre da rainha. E assim que se findava um novo aposento, ela subia e mandava preparar outro.

Quinze anos se passaram e ela tinha tudo o que pedira a fada, mas era uma pessoa sozinha. Vivia no alto de 15 andares, que marcavam cada ano que estava ali, presa aquele castelo frio.

Foi então que a fada reapareceu. O choque foi tão grande quando encontrou a menina que ela conheceu vestida de trapos, com roupas reais de pé, em uma das janelas. Logo a fada percebeu a intenção da rainha e correu para tentar impedir o pior.
- Não faça isso! Não é a solução! Como salvou a minha vida uma vez, te darei mais um desejo e assim salvarei a sua!
- Na época de meu pedido não me explicou corretamente o que vinha a ser abstrato... – falou a mulher com o olhar distante.
- Precisava ser rápida e...
- Agora eu sei que meu pedido fora realmente complicado... – a rainha interrompe a explicação da pequena fada.
- Então me diga qual seu pedido!
- Realizará qualquer um?
- Sim, quero salvar a sua vida, como fez com a minha!
- Faça de meu filho um homem digno.
E sem pensar duas vezes a rainha, que um dia fora uma camponesa, se joga do alto de sua torre.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Livro da Bruxa





“(...) Cerca de cem metros à nossa frente ia um agrupamento de carros. Todos muitos próximos uns dos outros. Olhei pelo retrovisor e vi outro grupo cinqüenta metros atrás de nós. Parecíamos estar no vácuo do transito.
- Caramba! Como você fez esta bruxaria? – exclamei.
- Não seja bobo. Isso não é bruxaria. Apenas diminuímos a velocidade e saímos da aglomeração. Talvez você não saiba, mas as pessoas têm necessidade de permanecer em grupos, mesmo quando não se conhecem. A estrada é um exemplo típico. Quando se sentir pressionado, basta diminuir um pouco a velocidade, e o grupo passará por você, deixando a estrada livre.

Instintivamente acelerei um pouco mais, tentado alcançar os carros da frente, e entendi o que ela quis dizer em relação à necessidade de estar próximo dos outros.
- Lá trás vem vindo outro grupo – ela continuou. – Se você souber administrar ficaremos entre o dois e teremos a estrada praticamente vazia para a viagem. Se o grupo de trás nos alcançar é só diminuir e deixá-los passar. É só isso – Concluiu.
(...)
Ela virou-se para mim:
- Na vida enfrentamos situações como semelhantes o tempo todo. Muitas vezes deixamos nossos desejos de lado e somos arrastados pelo movimento do grupo. Pior é que temos medo de desacelerar e deixar o grupo passar – comentou.
Pensei um pouco antes de perguntar.
- Será falta de personalidade?
- Colocando dessa forma parece ser algo ruim, mas não é bom e nem ruim, é apenas uma característica que possuímos. Só precisamos ficar atentos para saber se estamos fazendo algo porque acreditamos ou porque estamos sendo levados pelo grupo.
(...)
- Muitas vezes precisamos do apoio do grupo para empreendermos nossos projetos. Na África, por exemplo, uma zebra fica mais segura quando está no grupo. Sozinha ela se torna desprotegida e vulnerável. Encontre um grupo que possua um ritmo adequado, semelhante ao seu, e tudo será mais fácil. Por outro lado, se se sentir desconfortável, como estava a pouco no agrupamento de carros, saiba desacelerar de deixá-los ir.
- Parece lógico – afirmei.
- No entanto é difícil colocar em pratica pois acreditamos que ao diminuir o ritmo, perderemos alguma coisa. Sair de um grupo é angustiante e nos deixa infelizes.
Ela fez uma pequena pausa.
- O importante não é confundi seu ritmo com os do grupo. E não ter medo de deixá-lo quando sentir incompatibilidade... Como disse, o bom navegador sabe quando se deve entrar na corrente e também quando é hora de remar sozinho.”



Estes trechos acima pertencem ao Livro da Bruxa (Lopes, Roberto. Editora Ediouro. São Paulo 2008. 128 páginas), no capitulo “agrupamentos”. Uma amiga me indicou a resenha, por isso não irei fazer o mesmo, apenas direi as minhas impressões.

Encontrei o dito cujo na prateleira de auto ajuda, o que já conferiu um certo preconceito. Mas como tinha prometido ler, tudo bem, fui adiante.
Comecei no engarrafamento e não consegui mais tirar os olhos da leitura, fluía de forma fácil, e a narrativa era bem envolvente. Quando dei por mim havia passado do ponto onde deveria saltar do ônibus. Fui surpreendida por vizinhos me avisando que se eu continuasse lendo andando acabaria caindo! Realmente eu estava fazendo algo que nunca consegui antes, ler e andar!
As associações que a bruxa faz no livro são de uma magia impressionante. Não, não era feitiçaria, apenas palavras sábias que foram aprendidas ao longo de 80 anos de vida.
Durante toda a leitura não vi uma mágica sendo feita. Era somente um novo modo de olhar a vida. Nas ultimas páginas tive a prova de que aquilo tudo foi real. O autor passou por cada situação ali narrada.
Como havia terminado de ler em algumas horas, nos três dias que se seguiram o livro ficou largado em minha mesa de computador, como mais um papel inútil, nem me dei o trabalho de colocá-lo na estante junto dos outros. Fiquei a olhar para a capa em forma de quadrado durante uns dez minutos. Foi ai que abri se supetão e caiu logo no trecho que transcrevo a cima. Reli cada palavra... E consegui perceber na pratica o que a bruxa estava falando. Sorri. Havia deixado um agrupamento passar...

Tive sérias dificuldades de adaptação na UFF, não sei se por mim, ou pelos colegas de classe, ou até mesmo por ambos. Mas o fato era que não me sentia à vontade com aquele grupo. Perdi um semestre inteiro, devido às faltas. Não sentia vontade alguma de colocar os pés na faculdade que lutei três anos (sem cursinho, estudando em casa sozinha) para entrar. No segundo semestre de 2008, escolhi as mesmas matérias que havia perdido só que no turno da noite. E tudo foi diferente...

Hoje aprendi que temos que aceitar os momentos que desaceleramos para deixar o grupo passar, ou até mesmo quando aumentamos a velocidade para ultrapassá-los.

Assim que passar na livraria Siciliano vou informar que este não é um livro de auto ajuda, é uma obra que te faz pensar. Mágica, comparada a alguns livros que são campeões de vendas atualmente.