quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O Livro da Bruxa





“(...) Cerca de cem metros à nossa frente ia um agrupamento de carros. Todos muitos próximos uns dos outros. Olhei pelo retrovisor e vi outro grupo cinqüenta metros atrás de nós. Parecíamos estar no vácuo do transito.
- Caramba! Como você fez esta bruxaria? – exclamei.
- Não seja bobo. Isso não é bruxaria. Apenas diminuímos a velocidade e saímos da aglomeração. Talvez você não saiba, mas as pessoas têm necessidade de permanecer em grupos, mesmo quando não se conhecem. A estrada é um exemplo típico. Quando se sentir pressionado, basta diminuir um pouco a velocidade, e o grupo passará por você, deixando a estrada livre.

Instintivamente acelerei um pouco mais, tentado alcançar os carros da frente, e entendi o que ela quis dizer em relação à necessidade de estar próximo dos outros.
- Lá trás vem vindo outro grupo – ela continuou. – Se você souber administrar ficaremos entre o dois e teremos a estrada praticamente vazia para a viagem. Se o grupo de trás nos alcançar é só diminuir e deixá-los passar. É só isso – Concluiu.
(...)
Ela virou-se para mim:
- Na vida enfrentamos situações como semelhantes o tempo todo. Muitas vezes deixamos nossos desejos de lado e somos arrastados pelo movimento do grupo. Pior é que temos medo de desacelerar e deixar o grupo passar – comentou.
Pensei um pouco antes de perguntar.
- Será falta de personalidade?
- Colocando dessa forma parece ser algo ruim, mas não é bom e nem ruim, é apenas uma característica que possuímos. Só precisamos ficar atentos para saber se estamos fazendo algo porque acreditamos ou porque estamos sendo levados pelo grupo.
(...)
- Muitas vezes precisamos do apoio do grupo para empreendermos nossos projetos. Na África, por exemplo, uma zebra fica mais segura quando está no grupo. Sozinha ela se torna desprotegida e vulnerável. Encontre um grupo que possua um ritmo adequado, semelhante ao seu, e tudo será mais fácil. Por outro lado, se se sentir desconfortável, como estava a pouco no agrupamento de carros, saiba desacelerar de deixá-los ir.
- Parece lógico – afirmei.
- No entanto é difícil colocar em pratica pois acreditamos que ao diminuir o ritmo, perderemos alguma coisa. Sair de um grupo é angustiante e nos deixa infelizes.
Ela fez uma pequena pausa.
- O importante não é confundi seu ritmo com os do grupo. E não ter medo de deixá-lo quando sentir incompatibilidade... Como disse, o bom navegador sabe quando se deve entrar na corrente e também quando é hora de remar sozinho.”



Estes trechos acima pertencem ao Livro da Bruxa (Lopes, Roberto. Editora Ediouro. São Paulo 2008. 128 páginas), no capitulo “agrupamentos”. Uma amiga me indicou a resenha, por isso não irei fazer o mesmo, apenas direi as minhas impressões.

Encontrei o dito cujo na prateleira de auto ajuda, o que já conferiu um certo preconceito. Mas como tinha prometido ler, tudo bem, fui adiante.
Comecei no engarrafamento e não consegui mais tirar os olhos da leitura, fluía de forma fácil, e a narrativa era bem envolvente. Quando dei por mim havia passado do ponto onde deveria saltar do ônibus. Fui surpreendida por vizinhos me avisando que se eu continuasse lendo andando acabaria caindo! Realmente eu estava fazendo algo que nunca consegui antes, ler e andar!
As associações que a bruxa faz no livro são de uma magia impressionante. Não, não era feitiçaria, apenas palavras sábias que foram aprendidas ao longo de 80 anos de vida.
Durante toda a leitura não vi uma mágica sendo feita. Era somente um novo modo de olhar a vida. Nas ultimas páginas tive a prova de que aquilo tudo foi real. O autor passou por cada situação ali narrada.
Como havia terminado de ler em algumas horas, nos três dias que se seguiram o livro ficou largado em minha mesa de computador, como mais um papel inútil, nem me dei o trabalho de colocá-lo na estante junto dos outros. Fiquei a olhar para a capa em forma de quadrado durante uns dez minutos. Foi ai que abri se supetão e caiu logo no trecho que transcrevo a cima. Reli cada palavra... E consegui perceber na pratica o que a bruxa estava falando. Sorri. Havia deixado um agrupamento passar...

Tive sérias dificuldades de adaptação na UFF, não sei se por mim, ou pelos colegas de classe, ou até mesmo por ambos. Mas o fato era que não me sentia à vontade com aquele grupo. Perdi um semestre inteiro, devido às faltas. Não sentia vontade alguma de colocar os pés na faculdade que lutei três anos (sem cursinho, estudando em casa sozinha) para entrar. No segundo semestre de 2008, escolhi as mesmas matérias que havia perdido só que no turno da noite. E tudo foi diferente...

Hoje aprendi que temos que aceitar os momentos que desaceleramos para deixar o grupo passar, ou até mesmo quando aumentamos a velocidade para ultrapassá-los.

Assim que passar na livraria Siciliano vou informar que este não é um livro de auto ajuda, é uma obra que te faz pensar. Mágica, comparada a alguns livros que são campeões de vendas atualmente.

6 comentários:

Deborah Brandão disse...

Nossa que boa dica, já estou morrendo de vontade de ler!!!
Beijos amiga querida.

Vinícius de Oliveira disse...

Belo texto a partir do trecho, e bom trecho do livro também. Legal terem te falado desse livro né,rs.
Abraços...

kakal132 disse...

Muito bom esse livro... Meu aniversário foi dia 13 de fev. sexta-feira 13, precisamente. Ganhei esse livro. Já tinha um tempo q vinha namorando ele, nas prateleiras da livraria... Muito bom.. pequeno, e mt sábio!!! Descobri q sou uma bruxa! =D

Milkshakedepalavrasdalu disse...

Muito interessante, isso de deixar um grupo passar, eu fiz isso tb e me culpava, achava q tinha errado na decisão, e agora vejo que fui sábia e que foi melhor para mim.
Vou correndo ler esse livro rss
Adorei o seu blog e os seus contos.
Bjs, amiga!
Lu ; )

otávio disse...

Eu li esse livro e amei.é tudo verdade,concordo com vc,eu tbm ainda não me adaptei á UFS é muito difícil conviver e ficar no msmo "nível" que meus colegas de curso,e eu tava me sentindo mal por isso,faz um tempo que to deixando o grupo passar,e to achando um novo grupo com o meu ritmo.Tudo está melhorando agora.
Liliane.

A ARTE DE EXISTIR disse...

Eu li esse livro em 4 horas...chorei muito depois de ter lido...É o livro da minha vida até hoje...deveria ser relançado...e esse autor mais conhecido...outra coisa que me deixou impressionado foi a simplicidade dele...fantástica...eu sou um escritor em começo de carreira, e gostaria muito de seguir o mesmo passo do Roberto.....