quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Amor vs Prisão

O cachorro late insistentemente, preso a coleira, não consegue sair, força a corrente, parece que vai arrebentar...

Miados agudos, o gato arranha a porta...

Pássaros debatem-se assustados dentro do viveiro...

A mão tenta alcançar o anel e quando consegue, cerra o punho prende-o dentro de si...

O rato branco correndo sem sair do lugar, movendo a roda no interior de sua gaiola...

Acordo assustada, um pesadelo com cenas pipocadas, flash sem sentido e sem conexão entre si.

Subo apressada a escadaria, minha casa fica em uma ladeira. Pela primeira vez paro durante a subida, o vento está tão forte que abafa os sons do asfalto. Já passam das 22 horas. Viro-me, estou no alto, não há nada entre eu e o vento. Abro meus braços e deixo a mochila deslizar até o chão.

O vento brinca com meus cabelos. Não me preocupo em ficar descabelada, estamos sós ele e eu. Passando por entre meus dedos... Tocando cada parte do meu corpo. Apenas o som do vento batendo entre as árvores, pareço voar...Liberdade... No mesmo instante lembro-me do sonho que tive a mais de uma semana!

Estava ali, livre como um pássaro, mas meus pássaros estavam presos. E quanto tempo faz que não vejo um pássaro livre? Não me lembro... Mas eu mesma defendo minha posição: prendemos para alimentá-los, protegê-los dos gatos... Mas e os gatos? Prendemos para evitarmos que fujam, ou que sejam pegos por um grande cachorro... E o cachorro? Prendemos por que amamos...

E assim rebatia cada argumento, com a resposta do “por que amamos”, mas por que temos que prender tudo que amamos?

Por que motivos temos que colocar coleiras, gaiolas, alianças...?

O ser humano tem necessidade de viver em grupo. Responde um antropólogo a minha pergunta.

Sociólogos, psicólogos, todos os “ologos” que encontrei não puderam me dar uma resposta satisfatória.

Uma vez li um sábio ditado: “tudo que amo deixo livre e se me amar de verdade vai voltar”. Será verdade? Conseguimos abrir mão do que amamos com tanta facilidade? Creio que não...

A mãe ao ver que o filho tem sua primeira namoradinha, vai a todo custo encontrar defeitos nela, pois não quer perder a sua cria. Com meninas é ainda pior. Já soube de casos do pai fazer termo de compromisso para namorar!

Quando amamos uma pessoa, queremos prende-la a todo custo, de todas as formas... Mas não gostamos de estar presos... Precisamos respirar... Eu preciso sentir o vento no meu rosto e não me preocupar com nada!

Tentei seguir o ditado no dia seguinte, soltei meu cachorro, que matou uma das galinhas que também tinha soltado... Transformei o quintal numa arca de Noé... Mas tenho a ligeira impressão que eles não se deram muito bem soltos não... Ainda bem que só teve um óbito, era uma galinha que eu não gostava mesmo... O que mais me deixou chateada foi o rabo do meu gato que quebrou... coitado...

Mas percebi que não dá para soltar bichos. Mas será que podemos colocar isso em prática com as pessoas, sem que elas pensem que estão sendo abandonadas? Pois ao mesmo tempo em que prendemos, queremos ser presos por alguém, temos a necessidade de reclamar, chorar, resmungar... Sermos as vitimas.

Então pergunto: queremos a real liberdade?

Temos maturidade para entender?

Ou será que prendemos, pois queremos estar presos também?

Que tipo de liberdade procuramos?

Quem tiver essas respostas me diga, pois adorei ficar ao sabor do vento...

E aviso que estou soltando a tudo e a todos.

Na minha experiência, todos os bichos voltaram para as suas “prisões”. Então se os bichos voltam, os seres humanos também vão voltar... Ou não...

3 comentários:

Fábio Marques disse...

Lindo Texto !!!

Insegurança é a palavra chave... O medo de não sermos tão bons, pelo menos não o suficiente para que o ser amado volte.

mas se não voltar, então não era Amor...

Lindo !!

Vinícius de Oliveira disse...

Muito bom o texto! A medida que lia cada parágrafo, me vinham à cabeça frases que eu responderia aqui no comentário, mas aí você mesma foi respondendo estas minhas frases ou por vezes colocando-as nos parágrafos seguintes. Ótima reflexão, ótima observação do espaço a sua volta. Questão tão constante a todos. Por vezes, mesmo aquilo que era verdadeiro pode não voltar, as vezes as mentiras persistem, as vezes o que foi verdadeiro volta e as mentiras podem acabar não voltando também. Mas o caminho é tentar, fazer, descobrir... Viver. Esta semana pensava eu cá com meus botões sobre as idéias que costumamos ter de Equilíbrio. Pensei que o verdadeiro equilíbrio consiste na tentativa de chegar a ele. Quando agimos em um extremo, e numa situação possível tentamos agir no outro extremo para tentar equilibrar as coisas. É aí que consiste o equilíbrio, pois talvez ele não seja pleno. Está de parabéns, tive vontade de dizer que foi um texto perfeito.

Sofia disse...
Este comentário foi removido pelo autor.