terça-feira, 11 de novembro de 2008

O Tesouro da Rainha

Um jovem arqueólogo, obstinado e decidido chega à Milano, uma pequena cidade no norte da Itália, na fronteira da atual Áustria e Alemanha, em busca do famoso tesouro da rainha Herz aus Stein.

Uma lenda medieval que dizia que por volta do ano de 1008, uma das mais perversas rainhas da região mandou construir uma arca que só ela poderia abrir, para guardar o maior tesouro do mundo.

No sitio arqueológico ele logo encontrou vários objetos valiosos, mas nada da tal arca.

Após dez anos de busca, o jovem, agora não tão jovem, informa aos jornais locais que sua busca tinha terminado e que ele não havia encontrado o tesouro, apenas uma parede de pedra. Que nenhuma dinamite foi capaz de derrubar.

No fim da noite o arqueólogo é surpreendido por uma senhora, muito idosa batendo em sua porta. A surpresa foi ainda maior quando ela entrou sem cerimônias segurando algo enrolado num manto de veludo.

- Estive acompanhando sua trajetória em busca do tesouro da Herz aus Stein... – Começou falar serenamente a senhora. – E guardei por todos esses anos, toda e qualquer noticia sobre a sua empreitada...

- Em que eu posso ajudá-la? – Interrompe o jovem impaciente.

- Você não vai me ajudar. – Sorri a senhora com o olhar firme. – Eu vim ajudá-lo.

- Então vamos me ajude! – Caçoa o incrédulo arqueólogo.

- Pois bem senhor arqueólogo, como não tive filhos, estou com isso preso comigo - a mulher abre o pano e mostra uma alavanca – e hoje eu resolvi lhe dar a chave para abrir a porta que minha ancestral fechou e pediu para que seus descendentes guardassem e não deixassem ninguém mais abrir. E assim permaneceu, fechada.

O arqueólogo ficou sério, aquilo que ele tinha em mãos era realmente a única peça que faltava para abrir aquela engrenagem e se perguntava: como ele e nenhuma outra pessoa haviam pensado numa coisa tão simples?

- Por favor, me conte tudo que sabe a respeito da lenda.

- Mas é exatamente isso que vim fazer aqui...

- O reino de Milano era conhecido por suas violentas pilhagens, mesmo sendo um povo de origem românica, eram comparados com os bárbaros da Germânia. Povo este que tinham grande aproximação.

- Isso eu encontrei em minha pesquisa, por isso o nome dela é em alemão, e quer dizer coração de pedra. – Concluiu o estudioso.

- Havia uma possibilidade de união com um reino da Germânia, bem pequeno, mas a proximidade fez com que os laços se estreitassem. E aproveitando-se da confiança, o soberano daquele reino pegou o tesouro da rainha. O mais engraçado foi que ela não se importou. Ficou até feliz de compartilhar o que era tão importante para ela. Mas com o passar do tempo ele voltou e trouxe consigo o tesouro dela... Estava devolvendo.

O arqueólogo se assustou.

- Era tão valioso, mas infelizmente o rei germânico não sabia como usar, não sabia o que fazer com aquilo...

- Mas ele poderia vender! – Falou o estudioso.

- Não sei o motivo, ele apenas devolveu. E a rainha temendo um novo roubo chamou todos os ferreiros e pagou para a arca mais resistente que ninguém pudesse abrir. Chamou os maiores construtores da época para fazerem aquela fortaleza dentro da fortaleza, um pequeno cofre. Com a forma de abrir mais simples, mas que somente ela saberia. Depois desse incidente ela se tornou mais dura, e cruel, ganhando assim o nome de Herz aus Stein. E assim foi passando de geração em geração a lenda. E ninguém tentou abrir o tesouro. E hoje ele é seu...

O rapaz ficou em silêncio, emocionado.

A senhora foi embora, e ele correu ao sitio onde estava escavando havia dez anos. Lá chegando já foi abrindo o grande cofre. As pedras demoraram a sair do local, mas enfim saiu, ele nem acreditava que colocaria a mão naquela lenda...

Encontrou no meio do pequeno salão um baú, todo trabalhado em ouro. Com um grande cadeado, este também do metal precioso. Com sua lanterna procurou pela chave em todo o cômodo. Não encontrou, foi embora levando consigo o baú.

Vários chaveiros foram convocados, mas o mistério da rainha parecia impossível de desvendar. Então para a surpresa de todos, o arqueólogo desistiu de tentar abrir.

No ano de 2008, o arqueólogo já idoso chamou seu neto mais novo, era o único da família que se interessava por história. E ele contou a lenda e pediu para seu neto virar o novo guardião do segredo. E quando o velho passaria o bastão percebeu que o cabo dele era bem parecido com uma chave. Tentou. O baú abriu.

A decepção era visível em seus olhos, não havia ali dentro pedras preciosas e jóias como ele havia imaginado.

O conteúdo da arca eram sete bolas com dragões desenhados.

- Esferas de dragão? – Interrogou o neto curioso.

- Não, são bolas... E não são pedras preciosas... – Concluiu o senhor.

- Mas... ISSO é o tesouro?

- É... Acho que só agora entendi o porquê eu não abria, na verdade esse é o tesouro dela, e somente ela soube qual o valor que essas... Esferas... – Fechou a arca e olhou nos olhos do neto. – Eu terei que manter trancado, pois como o rei alemão, eu não sei nem o valor e nem como usar...

4 comentários:

Tiago Mebarak disse...

Muito bom mesmo este texto... adorei...
Que cada um de nós cuidemos dos nossos não? rsss

Jana Lauxen disse...

Hey, muito bacana o texto.
Muito mesmo, prendeu a minha atenção do início ao fim.
Parabéns.

Grande abraço
:)

Tyr Quentalë disse...

Às vezes, o verdadeiro segredo se esconde dentro de nós mesmos.
Beijos.

Deborah Brandão disse...

Adorei!!!