quarta-feira, 25 de março de 2009

Concreto e Abstrato

Curiosa, a camponesa olhava o brilho que emanava de uma árvore, aproximou-se vagarosamente e viu que a luz dançava no troco oco. Quando seus olhos se acostumaram com o que via, percebeu que se tratava de um pequeno ser completamente envolto por teias de aranha.
A jovem retirou o pequeno ser o mais rápido possível, pois uma gigantesca aranha já estava de volta em busca de seu jantar.
Tamanha foi a surpresa da jovem ao perceber que aquele ser era uma espécie de miniatura humana, que a jogou no chão.
- Obrigada – falou a pequena criatura abrindo suas brilhantes e pequeninas asas.
- Você fala? – indagou a jovem assustada.
- Sim, sou uma fada. Fui pega desprevenida e não via mais solução, até que você chegou e me salvou... E como recompensa... Darei a ti direito a um desejo.
- Nossa! – Os olhos da camponesa brilharam. E sem pensar duas vezes ela pediu: – Quero ser feliz!
- Não é assim que se faz pedido – a fada deu um pequeno risinho. – ser feliz é abstrato.
- O que é abstrato?
- É aquilo que não podemos tocar, você tem que pedir coisas concretas, coisas que te façam feliz. Entendeu?
- Claro! Eu quero me casar com o príncipe que faça todas as minhas vontades, ter um filho saudável, criadas, comida na mesa, roupas novas!
A fada sorriu, naquele ano de 653, era claro que uma camponesa prediria o que ela via como uma vida perfeita. Então todos os pedidos da jovem foram realizados, e a fada prometeu que voltaria em 15 anos para verificar como estaria a sua salvadora.

Casou-se com o mais belo dos príncipes da região, e logo no primeiro ano teve um filho, bonito, forte e saudável. Roupas, criadas. Aprendeu a ler e teve contato com as letras clássicas, no qual mergulhou no passar dos anos em que percebeu que seu príncipe não era encantado. Aquele homem com o qual casou, fazia sim todas as suas vontades, mas tratava as pessoas com a mesma origem que ela como o resto do jantar. Que seus luxos eram pagos por pesados impostos. Que ele forçava a se deitar com ele, e quando ela não o fazia ele ia se servir das servas. Percebeu que quase não pôde participar da criação do filho, pois ele estava sendo preparado para ser o novo rei. Nem em seu peito ele pode ser alimentado, tinha ama de leite para isso.
Com tamanha tristeza e os seios repletos de leite ela pediu um novo aposento, seria no alto da torre. E como todas as suas vontades eram feitas, em pouco tempo já estava pronto.
E a cada ano que se passava um novo andar era adicionado a torre da rainha. E assim que se findava um novo aposento, ela subia e mandava preparar outro.

Quinze anos se passaram e ela tinha tudo o que pedira a fada, mas era uma pessoa sozinha. Vivia no alto de 15 andares, que marcavam cada ano que estava ali, presa aquele castelo frio.

Foi então que a fada reapareceu. O choque foi tão grande quando encontrou a menina que ela conheceu vestida de trapos, com roupas reais de pé, em uma das janelas. Logo a fada percebeu a intenção da rainha e correu para tentar impedir o pior.
- Não faça isso! Não é a solução! Como salvou a minha vida uma vez, te darei mais um desejo e assim salvarei a sua!
- Na época de meu pedido não me explicou corretamente o que vinha a ser abstrato... – falou a mulher com o olhar distante.
- Precisava ser rápida e...
- Agora eu sei que meu pedido fora realmente complicado... – a rainha interrompe a explicação da pequena fada.
- Então me diga qual seu pedido!
- Realizará qualquer um?
- Sim, quero salvar a sua vida, como fez com a minha!
- Faça de meu filho um homem digno.
E sem pensar duas vezes a rainha, que um dia fora uma camponesa, se joga do alto de sua torre.